Priscila Gorzoni: Me conte alguma história curiosa que
envolva o aikido e a participação das mulheres no aikido.
Mário Tetto: Já fui Uke de exame de uma professora
chamada Rosana, que na época fez exame para 3º Dan. Também fui uke de muitas
aulas da professora Mariana, que foi umas das instrutoras bem no inicio do
grupo que eu treinava. Sempre treinei com as meninas no tatame e nunca fiz
distinções. Inclusive na França treinei com muitas meninas que são tecnicamente
incríveis e aprendi muito nestes treinos. Um dos destaques são as professoras
Nadia Korichi e Helene Doué, dois grandes talentos do Cercle Tissier.
Priscila Gorzoni: Como e em que pontos o aikido pode
ajudar as mulheres na vida?
Mário Tetto: A dinâmica do Aikido pode trazer um bem
estar muito grande, pois junto com a atividade física aprendemos a nos
expressar com o corpo, ampliando a capacidade de comunicação. As artes marciais
são conhecidas por trazer saúde e diversos benefícios aos seus praticantes e
para as mulheres o Aikido entra como uma alternativa de desenvolvimento da
autoconfiança, da atitude e da postura.
Priscila Gorzoni: Percebo que ainda existem poucas
mulheres praticando aikido, você também percebe isso? Quais motivos citaria
para explicar isso?
Mário Tetto: Normalmente as artes marciais são praticadas
na maioria por homens, e não vejo uma desvantagem neste ponto no Aikido.
Acredito que de uma forma geral a forma tradicional do Aikido é excelente para
receber mulheres e vários Dojos são a prova disso. De qualquer forma é preciso
ir além, precisamos de mais oportunidades para o surgimento de modelos
femininos, quem sabe incentivando um calendário de seminários só ministrado por
mulheres.
Priscila Gorzoni: Como os Senseis podem contribuir para
que mais mulheres treinem?
Mário Tetto: Se o Sensei consegue oferecer um Dojo com
regras leves e saudáveis, com um nível equilibrado de organização e limpeza,
onde todos possuem a oportunidade para se expressarem do seu jeito,
naturalmente pode ser um local para o surgimento de mais mulheres treinando.
Porém é necessário criar modelos, mulheres que inspirem outras mulheres a
treinar. Mais professoras reconhecidas e respeitadas, que transmitam uma imagem
de felicidade, alegria e confiança em resultado da superação e dedicação aos
treinamentos. Cabe ao Sensei identificar estes talentos, ajudando a alimentar
os sonhos e as expectativas das suas alunas, não deixando que rigor dos treinos
se misture com violência ou agressividade.
Priscila Gorzoni: Para as mulheres que estão enfrentando
problemas em dojos, como por exemplo o preconceito, quais conselhos daria?
Mário Tetto: De uma forma geral se você é vitima de
qualquer forma de preconceito em um Dojo saia imediatamente e procure outro. Se
o preconceito é por parte do Sensei ou vem de outros alunos, a responsabilidade
continua sendo do Sensei, que deve mediar estes conflitos. Uma coisa é você ter
problemas de adaptação por alguma dificuldade de coordenação motora, falta de
concentração ou por timidez, ou seja lá qual for o motivo, outra situação
totalmente diferente é receber um tratamento preconceituoso de alguém.
Lembre-se que ser professor ou praticante de Aikido não garante um selo de
qualidade de caráter. Então, se você adora o Aikido, mas já percebeu que não
recebe o tratamento adequado, procure outro Dojo. Existem várias escolas que
possuem profissionais excelentes que poderão te ensinar em um ambiente saudável
e equilibrado.
Priscila Gorzoni: Como é a presença das mulheres nos
dojos Frances? Elas são reconhecidas e como são tratadas?
Mário Tetto: Não conheço muitos Dojos pela França, mas
minha experiência no Dojo Cercle Tissier em Paris me trouxe a impressão que as
mulheres possuem um nível técnico muito alto e um reconhecimento justo no
tatame. Muitas já ensinam em seus Dojo e algumas até já são convidadas para
Seminários internacionais. A nova geração do Dojo possui a instrutora Micheline
Tissier como um modelo e uma referencia. Nos treinos do Cercle Tissier as
meninas se dedicam muito fisicamente aos treinos e não se vê diferença entre
homens e mulheres.
Em 2017 o Sensei Marcelo do Nascimento irá trazer ao
Brasil duas instrutoras do Cercle Tissier, a professora Micheline Tissier 6º
Dan e a professora Nádia Koichi 4º Dan, duas mulheres, algo inédito no
calendário nacional. Dois eventos imperdíveis para qualquer apaixonado por
Aikido, mas principalmente para mulheres de qualquer graduação.
Priscila Gorzoni: Quais diferenças vê o tratamento das
mulheres nos dojos brasileiros dos França?
Mário Tetto: Não vejo diferença no tratamento. Apenas me
parece que as meninas que praticam do Cercle Tissier na França possuem uma
grande disposição para treinos físicos e para o Ukemi. Parece que se dedicam ao
Aikido como um esporte, uma atividade física em busca de um estilo de vida
saudável. Muitas vezes no Brasil vejo meninas mais ligadas ao aspecto
filosófico e “Zen” do Aikido. Talvez seja esta a pequena diferença.
Priscila Gorzoni: As mulheres têm mais facilidade no
aikido ou mais dificuldade?
Mário Tetto: Como instrutor gosto de pensar que a
dificuldade não esta no gênero e sim na capacidade e estrutura física de cada
pessoa. Como professor de Aikido me vejo como um treinador que precisa ajudar
um atleta a atingir todo o seu potencial, sendo assim não existem diferença
entre homens e mulheres.
Priscila Gorzoni: Gostaria de saber o que você pensa
sobre o uso do hakama por mulheres.
Mário Tetto: No nosso Dojo as meninas podem usar o Hakama
já na segunda graduação, 4º Kyu. Sinto que é uma decisão positiva. Já tive
muitos relatos de meninas que se sentiram mais seguras em treinar com o Hakama,
por se sentirem mais protegidas, mais bem vestidas para movimentos de rolamento
e alongamento.
Por Priscila Gorzoni
O Diário de uma Guerreira - As vivências de uma praticante de aikido/capoeira
http://mulheresnoaikido.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário