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quinta-feira, 8 de março de 2018

As mulheres no Aikido - Priscila Gorzoni entrevista o professor Mário Tetto


Priscila Gorzoni: Me conte alguma história curiosa que envolva o aikido e a participação das mulheres no aikido.

Mário Tetto: Já fui Uke de exame de uma professora chamada Rosana, que na época fez exame para 3º Dan. Também fui uke de muitas aulas da professora Mariana, que foi umas das instrutoras bem no inicio do grupo que eu treinava. Sempre treinei com as meninas no tatame e nunca fiz distinções. Inclusive na França treinei com muitas meninas que são tecnicamente incríveis e aprendi muito nestes treinos. Um dos destaques são as professoras Nadia Korichi e Helene Doué, dois grandes talentos do Cercle Tissier.

Priscila Gorzoni: Como e em que pontos o aikido pode ajudar as mulheres na vida?

Mário Tetto: A dinâmica do Aikido pode trazer um bem estar muito grande, pois junto com a atividade física aprendemos a nos expressar com o corpo, ampliando a capacidade de comunicação. As artes marciais são conhecidas por trazer saúde e diversos benefícios aos seus praticantes e para as mulheres o Aikido entra como uma alternativa de desenvolvimento da autoconfiança, da atitude e da postura.

Priscila Gorzoni: Percebo que ainda existem poucas mulheres praticando aikido, você também percebe isso? Quais motivos citaria para explicar isso?

Mário Tetto: Normalmente as artes marciais são praticadas na maioria por homens, e não vejo uma desvantagem neste ponto no Aikido. Acredito que de uma forma geral a forma tradicional do Aikido é excelente para receber mulheres e vários Dojos são a prova disso. De qualquer forma é preciso ir além, precisamos de mais oportunidades para o surgimento de modelos femininos, quem sabe incentivando um calendário de seminários só ministrado por mulheres.



Priscila Gorzoni: Como os Senseis podem contribuir para que mais mulheres treinem?

Mário Tetto: Se o Sensei consegue oferecer um Dojo com regras leves e saudáveis, com um nível equilibrado de organização e limpeza, onde todos possuem a oportunidade para se expressarem do seu jeito, naturalmente pode ser um local para o surgimento de mais mulheres treinando. Porém é necessário criar modelos, mulheres que inspirem outras mulheres a treinar. Mais professoras reconhecidas e respeitadas, que transmitam uma imagem de felicidade, alegria e confiança em resultado da superação e dedicação aos treinamentos. Cabe ao Sensei identificar estes talentos, ajudando a alimentar os sonhos e as expectativas das suas alunas, não deixando que rigor dos treinos se misture com violência ou agressividade.

Priscila Gorzoni: Para as mulheres que estão enfrentando problemas em dojos, como por exemplo o preconceito, quais conselhos daria?

Mário Tetto: De uma forma geral se você é vitima de qualquer forma de preconceito em um Dojo saia imediatamente e procure outro. Se o preconceito é por parte do Sensei ou vem de outros alunos, a responsabilidade continua sendo do Sensei, que deve mediar estes conflitos. Uma coisa é você ter problemas de adaptação por alguma dificuldade de coordenação motora, falta de concentração ou por timidez, ou seja lá qual for o motivo, outra situação totalmente diferente é receber um tratamento preconceituoso de alguém. Lembre-se que ser professor ou praticante de Aikido não garante um selo de qualidade de caráter. Então, se você adora o Aikido, mas já percebeu que não recebe o tratamento adequado, procure outro Dojo. Existem várias escolas que possuem profissionais excelentes que poderão te ensinar em um ambiente saudável e equilibrado.


Priscila Gorzoni: Como é a presença das mulheres nos dojos Frances? Elas são reconhecidas e como são tratadas?

Mário Tetto: Não conheço muitos Dojos pela França, mas minha experiência no Dojo Cercle Tissier em Paris me trouxe a impressão que as mulheres possuem um nível técnico muito alto e um reconhecimento justo no tatame. Muitas já ensinam em seus Dojo e algumas até já são convidadas para Seminários internacionais. A nova geração do Dojo possui a instrutora Micheline Tissier como um modelo e uma referencia. Nos treinos do Cercle Tissier as meninas se dedicam muito fisicamente aos treinos e não se vê diferença entre homens e mulheres.
Em 2017 o Sensei Marcelo do Nascimento irá trazer ao Brasil duas instrutoras do Cercle Tissier, a professora Micheline Tissier 6º Dan e a professora Nádia Koichi 4º Dan, duas mulheres, algo inédito no calendário nacional. Dois eventos imperdíveis para qualquer apaixonado por Aikido, mas principalmente para mulheres de qualquer graduação.

Priscila Gorzoni: Quais diferenças vê o tratamento das mulheres nos dojos brasileiros dos França?

Mário Tetto: Não vejo diferença no tratamento. Apenas me parece que as meninas que praticam do Cercle Tissier na França possuem uma grande disposição para treinos físicos e para o Ukemi. Parece que se dedicam ao Aikido como um esporte, uma atividade física em busca de um estilo de vida saudável. Muitas vezes no Brasil vejo meninas mais ligadas ao aspecto filosófico e “Zen” do Aikido. Talvez seja esta a pequena diferença.

Priscila Gorzoni: As mulheres têm mais facilidade no aikido ou mais dificuldade?

Mário Tetto: Como instrutor gosto de pensar que a dificuldade não esta no gênero e sim na capacidade e estrutura física de cada pessoa. Como professor de Aikido me vejo como um treinador que precisa ajudar um atleta a atingir todo o seu potencial, sendo assim não existem diferença entre homens e mulheres.

Priscila Gorzoni: Gostaria de saber o que você pensa sobre o uso do hakama por mulheres.

Mário Tetto: No nosso Dojo as meninas podem usar o Hakama já na segunda graduação, 4º Kyu. Sinto que é uma decisão positiva. Já tive muitos relatos de meninas que se sentiram mais seguras em treinar com o Hakama, por se sentirem mais protegidas, mais bem vestidas para movimentos de rolamento e alongamento.


Por Priscila Gorzoni
O Diário de uma Guerreira - As vivências de uma praticante de aikido/capoeira
http://mulheresnoaikido.blogspot.com.br/


terça-feira, 6 de março de 2018

O equilíbrio dos códigos de Aikido


Por mais complexo e vigoroso que seja treinado um kata de Aikido clássico, ele sempre estará dentro do contexto criado originalmente, onde o UKE se oferece para receber a técnica até o final, sem necessariamente oferecer uma resistência real contra o NAGE. De uma forma geral, treinamos através de Katas, ou seja, uma ação coreografada dentro de uma hipótese marcial.
Precisamos confiar no Kata como uma ferramenta na construção das nossas habilidades marciais e não como um roteiro infalível de combate.
Devemos perceber que o estudo do Kata é uma chance de aprender junto com o parceiro e não uma oportunidade de submetê-lo a dor, sofrimento ou muito menos ilusões.
No Aikido nós respeitamos códigos durantes os treinos, porém é necessário não perder o nosso senso crítico, pois algumas vezes estes mesmos códigos se apresentam nos seus dois extremos, de um lado a sua expressão excêntrica, que evidencia a falta de compromisso marcial ou até mesmo a ausência de contato na realização dos katas e do outro, sua expressão agressiva, onde submete o outro a violência da dor como constatação de sucesso da ação.

A busca pelo equilíbrio nos códigos de treino pode manter nossos estudos de Aikido dentro de parâmetros justos, racionais e eficientes, potencializando os benefícios da prática e promovendo relações saudáveis no tatame, construídas com base na confiança, no entendimento e na realidade, além de melhorar a percepção que pessoas de fora da nossa comunidade têm sobre o Aikido.

por Mário Tetto



The balance of Aikido codes!

Even the most complex and strong Aikido movements it is trained inside of your original expression since it was created, where the UKE offers to receive the technique until the end, without necessarily offering a REAL resistance against the NAGE. In general, our training happens with “Katas”, respecting a choreographed action of a martial hypothesis.
We need to trust on “Kata” as a tool for building our martial skills and not as an infallible combat script. We must realize that the study of “Kata” is a chance to learn with the partner and not an opportunity to submit him to pain, suffering or even illusions.
In Aikido we respect codes during the training, but it is necessary not to lose our critical sense, because sometimes these same codes appear at both extremes sides, on one hand the eccentric expression, which makes evident the lack of martial commitment or even the “no touch” action, and on other hand, we have the aggressive expression, where the submission comes with pain as a way to ensure the success of the action.
The balance between the Aikido codes can keep ours studies on a fair, rational and efficient parameters, increasing  the benefits of the practice and promoting healthy relationships on the mat, built on trust, understanding and reality, as well as improving the perception that people outside of our community have about Aikido.


Mário Tetto