Aikido - Eficiência ou Arte?
Fazer coisas úteis ou fazer obras de arte?
A utilidade do Aikido normalmente é associada a sua eficiência, a sua
capacidade de “servir para alguma coisa”. Útil é uma ação que serve para algo,
por exemplo, o atemi, a torção e a projeção. A palavra “útil” neste aspecto é
reduzida apenas a sua capacidade de ação mecânica, da realização de um objetivo
concreto.
Já a “Arte”, ao contrário, tem fim em si mesma, não necessariamente precisa
servir para alguma coisa fora dela. É a manifestação de uma expressão. Tem personalidade, tem vida e sentimento.
É comum ver muita “Arte” nas apresentações dos Shihans de Aikido. Com sua
prática, criatividade e sensibilidade, adquiridos por anos de dedicação ao
Aikido, eles simplesmente desenvolvem uma intuição profunda, muitas vezes
despreocupados dos interesses pragmáticos da eficiência técnica, apenas criam.
O Aikido é uma Arte Marcial e justamente apresenta uma alternância em sua forma
de manifestação, horas expondo sua vocação artística e outras sua capacidade marcial. No que se refere à “Arte”
o Aikido é belo, esteticamente agradável, rico em filosofia e com códigos que
buscam a comunicação e harmonia entre as pessoas. Já no que se refere a “Marcial”
o Aikido é eficiente, útil como defesa pessoal, uma herança técnica da época
das guerras. Acontece que a pratica do Aikido é uma junção dos seus aspectos artísticos
e marciais. Nem sempre sabemos em que camada de estudo estamos inseridos. Mesmo
entre os praticantes é difícil distinguir a “Eficiência” da “Arte”.
Naturalmente isso gera muita discussão sobre a eficiência do Aikido e sua real
utilidade em combates ou como defesa pessoal em situações da rua.
O Aikido em sua expressão artística é algo elegante e refinado, com um discurso
pacífico e de união. Ueshiba foi invencível nos seus duelos não pode ser o mais
forte ou implacável, mas sim por entender que decidir não lutar era uma alternativa
muito poderosa e que exigia coragem. Assim como Orfeu, o personagem da mitologia
grega, que com sua “Arte” fazia com que até os mais brutais dos homens ficassem
sensibilizados e as feras mais ferozes repousassem aos seus pés, Ueshiba com
sua capacidade técnica, treinamento marcial e sua visão espiritual, fez surgir uma
Arte Marcial que promove a paz e oferece soluções criativas para superar um
conflito.
Por outro lado não podemos nos afastar da visão Marcial do Aikido, da sua
capacidade técnica, da sua eficiência. Isso é fato. As técnicas básicas foram
feitas para construir um corpo adequado, reflexos apurados, agilidade,
flexibilidade e uma noção de
timming,
onde as técnicas, quando aplicadas da forma correta, não possuem outra opção a
não ser
FUNCIONAR. Isto é um fato concreto. Se através da “Arte” o praticante
se expressa, pela “Técnica” ele se fortalece e se orienta. Na “Arte” predomina
a espontaneidade do Aikidoka, lhe oferece uma ilimitada liberdade criadora. Na “Técnica”
prevalece o método, a eficácia, o rigor operacional mecânico. Na expressão artística
também existe a técnica. Não se pode criar do nada. É necessário se apoiar em
formas, métodos e prática.
Para executar uma ideia, uma expressão artística do Aikido, o praticante deve
seguir determinada técnica. Pode se dizer que a “Técnica” funciona como a matéria prima da “Arte”.
Porém não podemos imaginar o Aikido como apenas uma aplicação sistemática e
mecânica, como apenas um conhecimento cientifico e rigorosamente metódico.
A “Técnica” sozinha não pode criar e responder todas as questões. Pelo
contrário, ela precisa da presença da “Arte” para que o Aikido seja capaz de
cumprir suas finalidades e possa levar as pessoas não só a necessidade da
defesa pessoal, mas também a necessidade de diversão, de satisfação e alegria
de expressar a sua própria essência.